"A partir do lembrete de Eduardo Lourenço".
O verdadeiro sentido patriótico sobressai, sempre, de quem tem uma opinião esclarecida sobre tudo o que acontece no seu país, e uma preocupação constante com acontecimentos relacionados que, por relevantes, nunca são deitados ao esquecimento.
Eduardo Lourenço sugeriu o Mosteiro dos Jerónimos como morada final (e eterna, digo eu) para a última bandeira "arriada" definitivamente, como símbolo do Império. Macau foi o lugar do mundo, a mais longínqua paragem onde os portugueses hastearam esse estandarte que tem no seu "centro" verde-rubro, a esfera armilar, e que mais nenhum país do mundo ostenta ou tem o direito de ostentar.
Acompanhei, via notícias de imprensa, o trajecto da bandeira desde o seu último dia em Macau, como símbolo representativo de território sob administração portuguesa, passando depois por caminhos, por onde não devia, até chegar a Portugal. O que eu desconhecia era o desprezo, que se pode imputar às forças armadas como instituição que tem o dever de protecção, mas com maior acuidade a Rocha Vieira, último governador e "protagonista dessa "honrosa" e última viagem, a que o símbolo foi votado, ainda que, certamente, o tenha deixado ao cuidado da Presidência da República.
Desconhecia o que tinha acontecido àquele Estandarte, nem mais lera notícias sobre o paradeiro de tão importante símbolo nacional mas, calculava eu que o tivessem destinado a um lugar onde o Povo Português tivesse a oportunidade de o visitar, quem por lá passasse, e de relembrar um dos importantes episódios de cinco séculos da história portuguesa além fronteiras, tanto mais significativo quanto, neste momento, autores estrangeiros escrevem que foi Portugal a dar início à globalização em que o mundo agora vive.
O nosso brilhante ensaísta (que outra personalidade haveria de ser?) sugeriu o Mosteiro dos Jerónimos. Os símbolos eternos e de importância histórica, serão sempre bem "vistos" onde fiquem.
Eduardo Lourenço viu e mediu bem! Não se pode encerrar numa qualquer gaveta, tanto pior na de um "ajudante de campo", uma parte da história que representa a alma de todos os portugueses.
É urgente, para que não volte a cair no esquecimento, que todos os órgãos de soberania, tarefa que cabe também a todo o Povo Português, se perguntem onde pára aquele importante Símbolo Nacional, e qual o trajecto que o último governador de Macau fez no regresso a Portugal, com certeza que para o entregar, em primeira mão, ao Presidente da República.
E também importante, qual e porquê o destino que lhe foi dado a seguir?
Seria de correcta observância que se tomassem medidas para que daqui a alguns anos, possivelmente quando esta geração, que ainda se recorda do acontecimento, já tenha passado para a vida eterna, ainda se saiba onde pára a última bandeira representativa do Império Português. Senão os vindouros assistirão, um dia, à sua saída do baú de alguém para as mãos de um qualquer coleccionador, a troco de bom dinheiro.
A bem do nosso registo histórico.
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