AS RAZÕES DE BENTO XVI
As notas que nos chegam de Paris, dos especialistas em assuntos do
Vaticano, e de outras informações que fomos adquirindo quando estes
assuntos quentes ainda não tinham saído para a praça pública
dizem que a renuncia nada teve a ver com assuntos de fé. As
apetências febris financeiras de hoje, invadiram os conclaves que
entre as nomeações papais se vão fazendo, longe da populaça que
diariamente enche a Praça de São Pedro ou a que diariamente bebe, e
jamais se sacia, desse cálice que os média todos os dias enchem com
palavreados dirigidos às correntes massivas da obediência cega. O
Papa Bento XVI terá decidido renunciar em Março passado, após
regressar da sua viagem ao México e a Cuba. Terá
descoberto, numa informação elaborada por um grupo de cardeais,
grandes irregularidades onde estes enunciaram comprometedores desvios
ao sentido espiritual que deve dominar a Igreja Romana: corrupção,
finanças obscuras, lavagem de dinheiro, guerras fratricidas pelo
poder, lutas entre fações e, mais recentemente, o roubo de
documentos secretos.
Se este último facto se tornou agora conhecido, os outros
mencionados já eram badalados aí por zonas onde a censura católica
se distraía. E, tratando-se essencialmente de poder e dinheiro, qual
o grupo implicado? Há quem acredite que o Opus Dei tem as mão
limpas.
Apesar da propaganda das
infalibilidades papais, diz-se que o imperial governo de Bento XVI
decorreu muito longe das verdades do céu e muito perto dos
grandes pecados terrestres, sendo
o Vaticano um
dos estados mais obscuros do planeta.
Enquanto aquele tipo de máfia calabrosa teve a sua base de refúgio
unicamente em território a sul de Roma, o seu “sustentáculo
confessional” funcionou sempre sem grandes escapes, sem fumaradas
que intoxicassem as plebles do resto do mundo ocidental, e tudo
decorreu sem que qualquer manifestação de justiça se fizesse
ouvir. Os dinheiros do chefe mafioso da Cosa Nostra estavam
depositados no IOR, o banco da Santa Sé. Mas, tudo tem um fim e esse
poder mafioso que floresceu na segunda metade do século XX,
extinguiu-se e apenas se notam resquícios, estando os últimos
chefes a contas com a justiça. No seu auge não existia quem os
intimidasse e, no reduto imperial, tudo é imune.
Os tempos mudaram, como sempre e, quando essa base sustentáculo
permitiu que uma prelatura criada noutro Estado, fora de Itália,
tomasse o lugar da antiga organização “protegida”, estava dado
o primeiro passo para a implosão daquele império milenar. O Opus
Dei não nasceu por necessidades de espalhar a fé. A sua criação
destinou-se a promover um contrapoder civil que a igreja de Roma
naquele momento não tinha, lá onde a voracidade do seu criador a
pretendia, nem a sua criação foi intenção do papado.
Bento XVI, ao deixar-se eleger por essa organização criada fora de
Itália, enliou-se a si próprio e, consequentemente, novelou o
próprio império que tinha de dirigir, numa teia de gananciosos tal
que jamais esse império voltará a ser o centro das atenções
ocidentais como já fora. Desta vez não será apenas cisma como há
séculos, mas dupla papal em que um deles pretende-se que seja o
visível e o outro o emérito que, quando a tempestade acalmar e as
águas regressarem aos seus leitos de aparente paz, poderá
sobressair a fase da lenta implosão, mais alargada, porque a
necessidade de seguir a reboque da evolução faz entoar as vozes
muito para além dos limites de Roma e, o facto de se ter de
modernizar, porque o Tempo o exige, ainda que teologicamente tentem
observar e acompanhar as tendências, estarão sempre na carruagem de
traz, como condição de manter aquele conservadorismo bacoco que se
conhece. Diz-se por aí, que o ministério de Ratzinger, apoiando ou
não as teologias da libertação, não conseguiu perceber a
sociedade do século XXI, nem entendeu lá do alto do seu altar, o
mundo que estava à sua frente.
Bento XVI terá contratado um jornalista norte americano, Greg Burke,
membro do Opus Dei, que fora integrante da agência Reuters, da
revista Time e das cadeias Fox, com a intenção de este contribuir
para a melhoria da imagem da Igreja Católica, ao que este terá
correspondido com a intenção, disse, de fazer luz. O Sumo e quem o
aconselha não perceberam que seria uma contradição tentar abrir as
janelas daquele conclave permanente a concorrentes de outro tipo de
imperialismo, uma vez que na condução do estado do Papado nada pode
ser claro e tal intenção morreu por aí. Os dias parecem decorrer
apenas em horas de lusco-fusco.
Desta nomeação se terá servido J.W. Bush para engendrar um acordo
com o Papa, em 2004, com a intenção de desmantelar a moeda única
europeia, ao colaborarem , os dois estados, nos pontos de interesse
de cada um. Os do outro lado do Atlântico, embora não declarado,
pela desintegração da moeda única europeia, o que, por
arrastamento, empurraria a União Europeia para a desintegração
política, ficando os da margem do Mediterrâneo a gerir a seu belo
prazer os estilhaços e os cacos do conjunto da cozinha europeia que,
como sempre, a fé apregoada se dá muito bem no seio da miséria e
da confusão. Assim a união do poder católico continuaria com sede
em Roma, como rezam os pergaminhos do império. O ponto fulcral que
baralhou toda esta questão, de quem desmantela o quê, terá surgido
quando perceberam que o processo arruinava também a Itália e aí,
todas as correntes de transmissão controladas pelo Goldman Sachs,
Montis e Cª, emperraram.
Os aconselhantes de Ratzinger não perceberam que os dois objetivos
eram antagónicos e então, como sempre, o fio condutor parte pelo
lado financeiramente mais fraco. Teria sido fácil de entender que a
ladroagem financeira que gravita à volta do Vaticano é muito
vulnerável e que a ladroagem também financeira vinda do outro lado
do Atlântico, com a experiência da Inteligência aí sediada ,
ramificada pelas praças europeias, não combinavam nos seus fins.
Nos princípios da atual crise das dívidas soberanas, Ratzinger
nomeou o banqueiro Ettori Gotti Tedeschi, um próximo do Opus-Dei,
diz-se, representante do Banco Santander em Itália, Presidente de
banco do Vaticano para tentar limpar a imagem bastante turva desse
labirinto das contas da Santa Sé, em que o arcebispo norte americano
Paul Marcinkus a tinha deixado, este chamado banqueiro de Deus, onde
a corrupção e a lavagem de dinheiro de origens desconhecidas fazia
a base financeira intocável do poder mafioso. Quando da detenção
do mordomo do Papa devido ao escândalo dos documentos roubados,
Tedeschi foi demitido por supostas irregularidades na gestão. Tudo
indica que as irregularidades no banco do Vaticano, mais conhecidas
desde os anos 80, tinham a mão do Opus Dei e eram propositadas, uma
vez que estes, ao tempo, constituíram uma associação de propaganda
2, conhecida como P-2, que se dizia maçónica, quando se sabia que
para a Igreja Católica a maçonaria era o inimigo figadal. A
intenção seria deitar para cima da maçonaria os escândalos que
preparavam utilizando o banco do Vaticano.
Assim percebe-se o porquê da Igreja Católica ser atualmente o
reflexo da atual decadência da sociedade ocidental em tudo o que de
pérfido ela tem.
A nova Santa Sé deverá ser tomada totalmente por dentro pela
prelatura Opus Dei, se um novo Papa não trouxer a força necessária
para por ordem nas intenções daqueles que querendo o poder que essa
instituição milenar comporta aliando-o ao poder financeiro agora
mais do que nunca apetecível para jogar na cena da globalização.
Este é o caminho para o abismo donde, o que de lá se salvar, não
se sabe quando, trará apenas o nome de Sé como caso remoto e
possivelmente passado à história.
Um homem apenas, por muito que o Divino o proteja, quando se aproxima
do final da sua passagem terrena, jamais terá “arcaboiço” para
suportar o peso que uma instituição de tal dimensão comporta e,
como demonstra a situação atual, ou se alteram as próprias leis
administrativas ou há que pedir ajuda. É o que parece estar a
acontecer.
10/3/2013